terça-feira, 18 de novembro de 2008

Carlos Azenha


O, pelos vistos, tão apreciado (por motivos que ainda não percebi totalmente) Azenha deu uma entrevista do DN.
Apesar de não concordar, de todo, com o timming da mesma – numa altura em que o FC Porto atravessa uma grave crise de resultados e está a uns incríveis 4 (!!!) pontos dos vermelhos – não resisto a deixar aqui algumas passagens da dita entrevista porque eu estou totalmente de acordo com alguns do seus pontos de vista, os quais aqui já defendi, nomeadamente quanto ao maior equilíbrio e opções do actual plantel (o que levou muitos a quererem imolar-me na via pública...) e à qualidade do Rodriguez, que para mim, quando explodir, vai fazer FUROR !
Mas tem também outros pontos de muito interesse.
Atentemos:
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“O actual plantel do FC Porto é melhor ou pior que o anterior ? E a equipa ?
O plantel é mais equilibrado e estruturado. (….)
Saíram jogadores importantes, como Quaresma, Bosingwa ou Paulo Assunção. As pessoas não podem pensar que se vai encontrar outro Bosingwa tão cedo. Os jogadores precisam de tempo. O Bosingwa precisou de tempo e com o Mourinho nem se calçava. O FC Porto tem de passar por essa fase mas o plantel tem agora mais alternativas do que tinha. E se tem mais alternativas tem mais soluções. E se tem mais soluções é melhor. Em termos globais, a grande diferença que noto é a falta de agressividade.
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Quem é o líder desta equipa ?
O Pedro Emanuel, o Nuno [Espírito Santo], cada vez mais, o Bruno Alves e o Lucho. A liderança de Lucho é a que lhe vem da sua classe. É um dos melhores profissionais com quem trabalhei em toda a minha vida.
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Os jogadores que chegam ainda são integrados no grupo como eram nos tempos de Jorge Costa ?
Não sei se há outro clube na Europa com um gabinete de acompanhamento às famílias dos jogadores tão competente e interessado como o do FC Porto. E ninguém faz ideia da importância que esse departamento tem no sucesso de uma equipa. Depois, dentro da cabine, há um conjunto de pessoas que asseguram essa integração. Os jogadores Pedro Emanuel, Nuno e Bruno Alves e os técnicos Rui Barros e João Pinto.

Quaresma ou Rodríguez ?
São dois jogadores diferentes, estilos diferentes embora ambos imprevisíveis - Quaresma é mais forte no um contra um mas Rodríguez é mais forte no trabalho colectivo.

Disse que Quaresma terá de mudar muito se quiser atingir o sucesso no campeonato italiano. Está a mudar ?
O Quaresma tem sido muito assobiado, mas tem de passar por essa fase de aprendizagem. Está num campeonato com enorme cultura táctica, onde se dá uma enorme importância a esse vector, mas Quaresma tem potencial para se tornar um grande jogador.

Disse: "Um jogador só é de top quando é tão bom do meio campo para trás como do meio campo para a frente." Quaresma não é de top ?
É assim que Deco ou Lucho se distinguem dos outros médios. Nesse aspecto, Quaresma não é um jogador de top. Mas está a trabalhar com um grande treinador e vai ter de aproveitar. Além disso, foi uma transferência muito cara e os sócios vão cobrar-lhe caro.(…)
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Consigo, que jogador nunca estaria no banco ?
Nenhum. Essa é uma grande diferença entre mim e Jesualdo Ferreira. Para mim não há jogadores titulares. Para mim são todos iguais e jogam apenas os que estiverem em melhores condições.(…)
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Quando saiu, teve uma longa conversa com o presidente. De que falaram ?
Pinto da Costa é das pessoas mais inteligentes e audazes que encontrei no futebol. Conviver com ele foi uma das maiores mais-valias que encontrei no FC Porto. Por alto, posso dizer que serviu para lhe transmitir as razões da minha saída.

Como é que ele reagiu ?
Aconselhou-me a pensar bem no passo que ia dar, a começar a minha carreira em Portugal e desejou felicidades.

Saiu do FC Porto portista ?
Tenho quatro clubes da minha vida: o Sacavenense, de que sou sócio e pago quotas, o Farense, o V. Setúbal e o FC Porto. Está tudo dito.
(entrevista na íntegra em comentário)

3 comentários:

O Situacionista disse...

Em 18 anos como adjunto, diz que passou no Dragão os dois melhores anos da sua vida desportiva. Elogia Pinto da Costa e agradece a Jesualdo. Mas acrescenta: "Temos maneiras completamente diferentes de olhar para o jogo"

O jogador Pepe, quando saiu do FC Porto para o Real Madrid, considerou-o "um treinador com grande futuro". Concorda?

É bom ouvir isso de um dos melhores centrais do mundo e registo com muito agrado. Pessoalmente, penso que posso ser um bom treinador.

Disse que esperaria até Dezembro por um convite de um clube estrangeiro. Acredita que esse convite vai chegar ?

Tenho recebido alguns convites de clubes portugueses e estrangeiros. Esta semana recebi um convite de um clube português. Também já fui convidado por um clube egípcio. Mas a minha prioridade é o campeonato alemão, inglês, escocês ou italiano. Se até Dezembro a oportunidade que eu espero não chegar, voltar-me-ei para o mercado português.

E em Portugal, para onde?

Mais do que esta ou aquela equipa, interessa-me o projecto. Um clube que queira ganhar. Veja-se o caso do Mourinho na União de Leiria. Por isso, desde que se trate de um clube com ambição e vontade de criar condições de trabalho, até pode ser um clube do fim da tabela. Tenho uma vantagem neste meio: não preciso do futebol para viver.

Recebeu convites quando ainda era adjunto de Jesualdo Ferreira no FC Porto?

Em 2007 recebi alguns e informei o FC Porto de todos esses convites. Em 2008 tive três convites de clubes da I Liga e um dos casos esteve muito perto de se concretizar. Cheguei a recusar outros projectos por causa desse e os dirigentes sabiam disso mas, depois, nada se concretizou.

Está a falar do Nacional?

Não vou falar em nomes.

De qualquer forma, concorda que os dirigentes não foram correctos?

Não foram correctos, isso não. Até porque, como digo, sabiam que eu tinha outras propostas e que as tinha recusado por causa do convite deles.

Recusou ser adjunto de Carlos Queiroz na selecção. Porquê?

O convite não foi feito directamente por Carlos Queiroz mas, sim, através de alguém da federação, que sondou a minha disponibilidade. Recusei porque não tinha qualquer lógica ter saído do FC Porto para encerrar um ciclo de adjunto e começar um novo ciclo como adjunto de Carlos Queiroz. Independentemente do valor do seleccionador e da honra que teria em trabalhar com ele, o ciclo de treinador adjunto estava encerrado.

Quando é que tomou essa decisão?

Em Fevereiro de 2008. Avisei o FC Porto que ia deixar o clube no final dessa época. Fi-lo com tempo, de forma a permitir ao clube que a época seguinte fosse preparada já com essa informação. A decisão foi tomada quando deixei de me identificar com a posição de adjunto.

Cansou-se de ser a segunda figura?

Ao longo de 18 anos fiz o lugar de adjunto com o maior brio. Sempre transmiti as ideias do treinador sem nunca deixar de dizer o que pensava. Fui sempre leal sem nunca ser um yes man.

Saiu do FC Porto como bicampeão nacional. Qual foi o seu contributo para essas vitórias da equipa?

Essa pergunta caberia melhor a Jesualdo Ferreira.

Dois campeonatos ganhos. Não há melhor rampa de lançamento para uma carreira a solo...

Pensei ao contrário: que dificilmente encontraria melhor forma de encerrar um capítulo. Quer pelos resultados quer pela experiência vivida. Foram os dois melhores anos da minha vida desportiva.

"Alguma coisa se passa com o FC Porto porque a equipa do ano passado era diferente", disse recentemente. O que é que a actual equipa tem de diferente?

Disse isso como também disse que os índices de confiança aumentariam se o FC Porto ganhasse ao Dínamo de Kiev, ao Sporting ou ao Guimarães. Agora, há um facto indesmentível: o início de campeonato que a equipa fez. O que aconteceu? Não sei responder. Neste momento não estou lá dentro, não sei como são feitos os treinos.

Com as vitórias em Kiev e Alvalade a crise passou?

Os índices de confiança são muito importantes e as vitórias são o tónico. Vamos ver como corre o jogo contra o Guimarães e se a equipa vai ou não acusar a pressão neste primeiro jogo em casa.

O actual plantel do FC Porto é melhor ou pior que o anterior? E a equipa?

O plantel é mais equilibrado e estruturado. Quanto à equipa, acho que não está com as rotinas assimiladas. As razões só o treinador as poderá dar. De qualquer maneira, também não acho que a equipa esteja tão mal quanto se anda por aí a dizer.

Saíram jogadores importantes, como Quaresma, Bosingwa ou Paulo Assunção. As pessoas não podem pensar que se vai encontrar outro Bosingwa tão cedo. Os jogadores precisam de tempo. O Bosingwa precisou de tempo e com o Mourinho nem se calçava. O FC Porto tem de passar por essa fase mas o plantel tem agora mais alternativas do que tinha. E se tem mais alternativas tem mais soluções. E se tem mais soluções é melhor. Em termos globais, a grande diferença que noto é a falta de agressividade.

Quem é o líder desta equipa?

O Pedro Emanuel, o Nuno [Espírito Santo], cada vez mais, o Bruno Alves e o Lucho. A liderança de Lucho é a que lhe vem da sua classe. É um dos melhores profissionais com quem trabalhei em toda a minha vida.

Os jogadores que chegam ainda são integrados no grupo como eram nos tempos de Jorge Costa?

Não sei se há outro clube na Europa com um gabinete de acompanhamento às famílias dos jogadores tão competente e interessado como o do FC Porto. E ninguém faz ideia da importância que esse departamento tem no sucesso de uma equipa. Depois, dentro da cabine, há um conjunto de pessoas que asseguram essa integração. Os jogadores Pedro Emanuel, Nuno e Bruno Alves e os técnicos Rui Barros e João Pinto.

Quaresma ou Rodríguez?

São dois jogadores diferentes, estilos diferentes embora ambos imprevisíveis - Quaresma é mais forte no um contra um mas Rodríguez é mais forte no trabalho colectivo.

Disse que Quaresma terá de mudar muito se quiser atingir o sucesso no campeonato italiano. Está a mudar?

O Quaresma tem sido muito assobiado ,mas tem de passar por essa fase de aprendizagem. Está num campeonato com enorme cultura táctica, onde se dá uma enorme importância a esse vector, mas Quaresma tem potencial para se tornar um grande jogador.

Disse: "Um jogador só é de top quando é tão bom do meio campo para trás como do meio campo para a frente." Quaresma não é de top?

É assim que Deco ou Lucho se distinguem dos outros médios. Nesse aspecto, Quaresma não é um jogador de top. Mas está a trabalhar com um grande treinador e vai ter de aproveitar. Além disso, foi uma transferência muito cara e os sócios vão cobrar-lhe caro.

A partir de certa altura, Quaresma pareceu ser mais um problema para a equipa do que uma solução.

Para equipa, não.

E para Jesualdo Ferreira?

Eventualmente.

Quaresma foi mesmo um caso difícil para Jesualdo?

Eventualmente.

Conhecendo o feitio do jogador, acha que ele vai evoluir ?

Quero acreditar que ele já percebeu que teimosia a mais é erro, que em Itália não vai ser fácil.

Disse que não é um yes man. Em que situações bateu o pé a Jesualdo?

Em algumas situações de jogo.

Ele aceita bem quem o rebate?

Aceitem ou não, não dou grandes hipóteses. Tenho de dizer o que penso. Essa é a minha lealdade com o líder.

Ele é capaz de aceitar e seguir sugestões?

Sim, com alguma facilidade.

Consigo, que jogador nunca estaria no banco?

Nenhum. Essa é uma grande diferença entre mim e Jesualdo Ferreira. Para mim não há jogadores titulares. Para mim são todos iguais e jogam apenas os que estiverem em melhores condições.

Com ele não é assim?

Ele tem outro capital de experiência e outra maneira de pensar.

Por exemplo: Helton ou Nuno?

Quer um quer outro. O FC Porto tem os três melhores guarda-redes dos campeonatos nacionais. Acredito que Ventura [3.º guardião] vai ser o futuro guarda-redes da selecção .

Outra diferença em relação a Jesualdo...

Temos maneiras completamente diferentes de olhar para o jogo.

Quando saiu, teve uma longa conversa com o presidente. De que falaram?

Pinto da Costa é das pessoas mais inteligentes e audazes que encontrei no futebol. Conviver com ele foi uma das maiores mais-valias que encontrei no FC Porto. Por alto, posso dizer que serviu para lhe transmitir as razões da minha saída.

Como é que ele reagiu?

Aconselhou-me a pensar bem no passo que ia dar, a começar a minha carreira em Portugal e desejou felicidades.

Saiu do FC Porto portista?

Tenho quatro clubes da minha vida: o Sacavenense, de que sou sócio e pago quotas, o Farense, o V. Setúbal e o FC Porto. Está tudo dito.

Trata os jogadores por você porquê?

A liberdade dos jogadores acaba quando começa a minha. Há uma tendência para aligeirar as atitudes com os adjuntos.

Como treinador principal vai mudar a forma de tratamento?

Não.

Foi adjunto de Toni no Egipto e na China.

Foram duas experiências fascinantes. Desde um país onde era impossível comunicar e com uma maneira completamente diferente de olhar para o futebol - a China - a outro, o Egipto, onde encontrámos uma grande paixão pelo futebol, mas várias dificuldades. Quando chegámos ao Al Ahly, a equipa tinha apenas nove jogadores.

Zahovic disse um dia sobre a dupla Toni-Jesualdo: "Toni teve um adjunto difícil que poucos aguentam..."

Não conheci o Jesualdo no papel de adjunto. Mas ser adjunto de Toni é muito fácil. Em termos humanos é das melhores pessoas que conheço. Aliás, em termos humanos, Toni é o meu treinador. Há aqueles que vêem no adjunto um rival, um fantasma. Toni não. Não sei o que é que Zahovic quis dizer mas eu disse a Jesualdo que no futuro gostaria muito de ter um adjunto exactamente igual ao que ele teve em mim.

Foi difícil ser adjunto dele?

Estou grato a Jesualdo e fui educado no sentido da gratidão.

Ao longo dos dois anos apenas foi uma única vez à flash interview, e para falar da sua saída do FC Porto.

Não faço ideia porque não fui mais. Terá de perguntar a Jesualdo Ferreira.

Ter um bom adjunto pode ser mais importante do que ter um bom treinador?

Um adjunto tem três tarefas: ser o confidente do treinador, ser o apaga-fogos e distinguir o que é importante do que é acessório. O adjunto está mais próximo dos jogadores do que o treinador principal e num plantel de 26 ou 27 homens há sempre dez superinsatisfeitos porque não são convocados. Mas dos 18 que são, também há sempre sete que estão insatisfeitos e, portanto, sem um apaga-fogos pode haver uma catástrofe. Ou seja, um mau adjunto pode deitar tudo a perder.

Estagiou com grandes treinadores europeus. Com qual deles aprendeu o mais importante?

Boskov, pela facilidade com que relativizava os problemas e os resolvia. Sacchi, porque é uma referência no processo defensivo; Van Gaal, pelo que me ensinou em termos ofensivos e porque gosta do confronto e tem uma enorme humildade. Em 2005, quando acabei o estágio com ele, disse-me que iria repetir o que já tinha dito a Mourinho: que estava na altura de deixar de ser adjunto. Só não encerrei o capítulo nessa altura porque Jesualdo me pediu por tudo para ir com ele para o Boavista. Depois surgiu o irrecusável convite do FC Porto.”
( http://dn.sapo.pt/2008/11/14/dnsport/noto_falta_agressividade_a_este_port.html )

dragao vila pouca disse...

Já tinha lido a entrevista e resumidamente, posso dizer: há coisas que concordo, há coisa que discordo, mas não tenho dúvidas nenhumas, é que ele saiu incompatibilizado com Jesualdo.
O que acho extraordinário, é que no período mais crítico - três derrotas seguidas - tenha havido pessoas a dizerem que as coisas corriam mal porque o Azenha não estava. É uma nova moda: agora os méritos das vitórias são dos adjuntos... só não consigo perceber de quem foi a culpa, da péssima segunda-volta, da época 2006/20007.
Um abraço

O Soldado Azul disse...

Ora aqui está um Post de categoria! Digo-vos que normalmente sigo as suas intervenções na RTP! Parece-me que estamos perante uma das maiores promessas na classe de treinadores portugueses! Os seus comentários, à semelhança do Luis Freitas Lobo, são bastante bons, de quem percebe realmente o que está a dizer! Nota-se que tem conhecimentos técnicos! Espero que tenha boas experiências enquanto treinador, dado que por vezes, são mal sucedidos não por imcomptetência mas por outras razões...
Quanto à entrevista, saliento o facto de quem passa no nosso clube acaba sempre por ter e ficar com as melhores referências (NGP, gabinete de acompanhamento, ...) coisa que devemos dar valor...
Saudações