Até este, embora com uma dor imensa, já percebeu o abismo para que corre, desenfredamente, o Ricardo Vermelho Costa...
"As escutas à frente dos bois
Volvidos cinco anos e meio sobre aquela manhã em que o país despertou com a notícia da detenção de Valentim Loureiro, o processo Apito Dourado continua a ser um molho de bróculos. A associação vegetariana é capaz de ser a mais apropriada para um processo que tem tanta lógica como uma batata. E que a cada momentos transforma cada um de nós em verdadeiros nabos.
Como se sabe, o processo começou com uma investigação aos jogos do Gondomar na época de 2003/2004, como resultado de uma denúncia do antigo árbitro Rui Mendes, o tal que só precisou de fazer meia época para, num momento em que o seu conterrâneo Avelino Ferreira Torres estava no Conselho de Arbitragem da FPF, garantir a subida ao 1.º escalão, onde não teve peso para se manter (ou melhor, teve em excesso).
O processo originário está praticamente arrumado. Houve 14 condenações num total de 21 arguidos, maioritariamente por abuso de poder e não por corrupção desportiva. Correm ainda os recursos sobre a decisão do colectivo que, exemplarmente, julgou este caso de Fevereiro a Julho do ano passado. Já depois de a Comissão Disciplinar da Liga e do Conselho de Justiça da FPF terem decidido condenar FC Porto, Pinto da Costa, Boavista, João Loureiro, U. Leiria, João Bartolomeu, Augusto Duarte, Jacinto Paixão e um punhado de figurantes. Decisões que se basearam muito, embora não só, nas transcrições de conversas telefónicas entre as várias pessoas envolvidas. Escutas as defesas sempre gritarem primarem pela ilegalidade.
A verdade é que o tempo passou e quer os tribunais comuns quer os desportivos decidiram, penalizando o FC Porto com a perda de 6 pontos e o Boavista com a descida de divisão, entre outras decisões que passaram também por penas de suspensão aplicadas a Pinto da Costa e João Loureiro. A UEFA chegou mesmo a ponderar afastar o FC Porto das competições europeias e só o "forcing" do departamente jurídico dos azuis e brancos, encabeçado por Adelino Caldeira, conseguiu evitar este cataclismo. Sobrando, porém, danos colaterais para o FC Porto e para o futebol português.
Conscientes que estamos todos, hoje, quanto à credibilidade de uma das principais testemunhas, a senhora Carolina Salgado, e verificados os arquivamentos de alguns processos e absolvições no que chegaram à sala de audiências, somos hoje confrontados com a possibilidade de toda a construção jurídica que sustenta o processo cair abruptamente. A U. Leiria tem na mão uma decisão irrevogável, de um tribunal superior, que manda desentranhar dos processos disciplinares de natureza desportiva escutas telefónicas. Reclamando 50 milhões de euros pelos danos causados.
Ora, se a U. Leiria reclama 50 milhões de euros, quanto não devem reclamar também FC Porto e Boavista à Federação Portuguesa de Futebol e à Liga (por solidariedade)? As escutas são genericamente conhecidas e ninguém fica bem na respectiva fotografia. Para memória futura ficará sempre este vislumbre dos bastidores do futebol, cuja profundidade é inimaginável. Mas verifica-se agora que, afinal, esta tipologia de crime não admite como prova transcrições telefónicas. Reparem que estamos a falar de transcrições telefónicas autorizadas por magistrados e valorizadas pelos mesmos. Agora liminarmente rejeitadas por outros magistrados. Figuras que, curiosamente, também apareceram, episodicamente, no lote das escutas do Apito Dourado. Por exemplo, pedindo bilhetinhos para a bola.
Parece que claro que quiseram meter as escutas à frente dos bois. O resultado é uma trapalhada de tal ordem que no mínimo põe em causa a qualidade das decisões da nossa magistratura e dos nossos tribunais desportivos - o que não será propriamente uma novidade - e que no máximo pode implicar a falência da principal instituição do nosso futebol. Uma falência técnica que, no fundo, todos já tínhamos pressentido. O futebol mais uma vez andou a reboque do monstro da justiça e até sentiu a tentação de ultrapassá-lo. Foi de desastre em desastre até à derrota final.
No fundo, ninguém vai ganhar. Todos vão perder um bocadinho: em espécie e em crédito. É uma forma muito estranha de promover o espectáculo a que chamam indústria. Bem, também a pornografia reclama este estatuto, não é? Autor: EUGÉNIO QUEIRÓS"
3 comentários:
Até este, embora com uma dor imensa, já percebeu o abismo para que corre, desenfredamente, o Ricardo Vermelho Costa...
"As escutas à frente dos bois
Volvidos cinco anos e meio sobre aquela manhã em que o país despertou com a notícia da detenção de Valentim Loureiro, o processo Apito Dourado continua a ser um molho de bróculos. A associação vegetariana é capaz de ser a mais apropriada para um processo que tem tanta lógica como uma batata. E que a cada momentos transforma cada um de nós em verdadeiros nabos.
Como se sabe, o processo começou com uma investigação aos jogos do Gondomar na época de 2003/2004, como resultado de uma denúncia do antigo árbitro Rui Mendes, o tal que só precisou de fazer meia época para, num momento em que o seu conterrâneo Avelino Ferreira Torres estava no Conselho de Arbitragem da FPF, garantir a subida ao 1.º escalão, onde não teve peso para se manter (ou melhor, teve em excesso).
O processo originário está praticamente arrumado. Houve 14 condenações num total de 21 arguidos, maioritariamente por abuso de poder e não por corrupção desportiva. Correm ainda os recursos sobre a decisão do colectivo que, exemplarmente, julgou este caso de Fevereiro a Julho do ano passado. Já depois de a Comissão Disciplinar da Liga e do Conselho de Justiça da FPF terem decidido condenar FC Porto, Pinto da Costa, Boavista, João Loureiro, U. Leiria, João Bartolomeu, Augusto Duarte, Jacinto Paixão e um punhado de figurantes. Decisões que se basearam muito, embora não só, nas transcrições de conversas telefónicas entre as várias pessoas envolvidas. Escutas as defesas sempre gritarem primarem pela ilegalidade.
A verdade é que o tempo passou e quer os tribunais comuns quer os desportivos decidiram, penalizando o FC Porto com a perda de 6 pontos e o Boavista com a descida de divisão, entre outras decisões que passaram também por penas de suspensão aplicadas a Pinto da Costa e João Loureiro. A UEFA chegou mesmo a ponderar afastar o FC Porto das competições europeias e só o "forcing" do departamente jurídico dos azuis e brancos, encabeçado por Adelino Caldeira, conseguiu evitar este cataclismo. Sobrando, porém, danos colaterais para o FC Porto e para o futebol português.
CONT.
CONT:
Conscientes que estamos todos, hoje, quanto à credibilidade de uma das principais testemunhas, a senhora Carolina Salgado, e verificados os arquivamentos de alguns processos e absolvições no que chegaram à sala de audiências, somos hoje confrontados com a possibilidade de toda a construção jurídica que sustenta o processo cair abruptamente. A U. Leiria tem na mão uma decisão irrevogável, de um tribunal superior, que manda desentranhar dos processos disciplinares de natureza desportiva escutas telefónicas. Reclamando 50 milhões de euros pelos danos causados.
Ora, se a U. Leiria reclama 50 milhões de euros, quanto não devem reclamar também FC Porto e Boavista à Federação Portuguesa de Futebol e à Liga (por solidariedade)? As escutas são genericamente conhecidas e ninguém fica bem na respectiva fotografia. Para memória futura ficará sempre este vislumbre dos bastidores do futebol, cuja profundidade é inimaginável. Mas verifica-se agora que, afinal, esta tipologia de crime não admite como prova transcrições telefónicas. Reparem que estamos a falar de transcrições telefónicas autorizadas por magistrados e valorizadas pelos mesmos. Agora liminarmente rejeitadas por outros magistrados. Figuras que, curiosamente, também apareceram, episodicamente, no lote das escutas do Apito Dourado. Por exemplo, pedindo bilhetinhos para a bola.
Parece que claro que quiseram meter as escutas à frente dos bois. O resultado é uma trapalhada de tal ordem que no mínimo põe em causa a qualidade das decisões da nossa magistratura e dos nossos tribunais desportivos - o que não será propriamente uma novidade - e que no máximo pode implicar a falência da principal instituição do nosso futebol. Uma falência técnica que, no fundo, todos já tínhamos pressentido.
O futebol mais uma vez andou a reboque do monstro da justiça e até sentiu a tentação de ultrapassá-lo. Foi de desastre em desastre até à derrota final.
No fundo, ninguém vai ganhar. Todos vão perder um bocadinho: em espécie e em crédito.
É uma forma muito estranha de promover o espectáculo a que chamam indústria. Bem, também a pornografia reclama este estatuto, não é?
Autor: EUGÉNIO QUEIRÓS"
( http://www.record.pt/noticia.aspx?id=18d5a022-13ea-4ff0-9895-ecb100acf5ad&idCanal=00001089-0000-0000-0000-000000001089 )
O Eugénio é mais um desanimado.
Quanto ao Helton, acho natural o desabafo.
Um abraço
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