quarta-feira, 30 de abril de 2008

Entrevista à "Visão"


Algumas passagens da entrevista do NGP à revista Visão:

Sente-se realizado no FC Porto?
Ao fim de 26 anos, sou o presidente do mun­do com mais títulos no futebol e nas outras modalidades. Realizei muito mais do que sonhei. Se fosse por mim, estaria satisfeito. Mas o clube não é meu: é da cidade, do País e uma referência internacional. Pessoas com responsabilidades afastam-se e encostam-se a outros lados, prognosticando que, quando deixar a presidência, o FC Porto se transfor­mará num clube provinciano. Vou sair quan­do entender — e antes dos sócios quererem — e provar aos calculistas que o FC Porto con­tinuará organizado, conquistador e orgulho da cidade.

Mas o futebol não o contaminou?
Não. No futebol, existe muita gente boa, cul­ta e instruída. Mas, como em muitas coisas da vida, também temos de lidar com pessoas boçais, incultas e até estúpidas. E há tam­bém incultos que, chegando a determinados lugares, metem uma cassete na cabeça, con­tratam gente para cuidar da imagem e profes­sores para aprenderem a falar. Não me revejo nessa gente, embora tenha de lidar com ela.

E as suas relações com os árbitros?
Tive e tenho, há anos, o telemóvel sob escu­ta. Verificaram ás vias verdes, os restauran­tes onde fui, para ver se me apanhavam en­contros, telefonemas ou combinações com árbitros. Tudo espremido, encontraram um árbitro que foi tomar café a minha casa, que nuncatinhaapitadoo FC Porto nesse campeo­nato e só apitaria um jogo em que já éramos campeões. Nem sequer ganhámos! E incrimi­naram-me por tentativa de corrupção num caso em que dois árbitros pedem a um ami­go meu sem ligação ao FC Porto que arranje umas meninas ou senhoras para terem com­panhia à noite. Nos processos, arquivados até alguém escrever o livro de uma certa senhora, não há uma chamada para árbitros. Sinto-me perseguido, obviamente que sim! Se certos papagaios que aí andam fossem escutados e fosse vigiada a forma como se fazem algumas contratações...

Acha que o Ministério Público e Maria José Mor­gado seleccionaram alvos?
Sinto-me seleccionado. A Carolina foi levada à Judiciária, umas vezes pela jornalista Leo­nor Pinhão, outras pelo Luís Filipe Vieira. Há provas. E a irmã da Carolina disse que ela foi industriada por gente do Ministério Públi­co...

Diz-se que Ana Maria Salgado é sua protegida...
Não, não! Não é nem deixa de ser. Não pedi nada nem ela me contactou. Mas há coisas indiscutíveis: a Carolina escreveu e disse que contratou indivíduos para mandar matar Ri­cardo Bexiga. Não acredito, é absurdo. Nunca no tempo que convivi com ela, o nome foi fa­lado. Se Carolina fez o que disse é gravissimo. Se não fez, é gravissimo também. No entanto não foi constituida arguida...

O mundo do futebol é o responsável?
Não é só no futebol que acontece. Não devia er acontecido, é verdade. Mas quem denegria imagem dela agora trata-a como se fosse a Madre Teresa de Calcutá. Quando ela disse no tribunal que era escritora, dei uma gar­galhada. Quando as revistas cor-de-rosa lhe mandavam perguntas para entrevistas, ela era incapaz de responder. Pedia a um amigo nosso, advogado, que o fizesse e ele depois mandava-lhe as respostas por e-mail. Quando vejo os artigos dela no Correio da Manhã, rio-me. Sei quem os escreve e para que e-mail são enviados. Ela depois manda-os para o jornal...

Quem os escreve?
Muitos foram escritos pelo Pedro Rita [jornalista do DN]. O Correio da Manhã paga à se­nhora dois mil euros pelos artigos que outros escrevem.

E a acareação com Carolina no próximo dia 14, preferia não a fazer?
Prefiro fazê-la! Essa senhora disse que eu al­moçava e jantava com Pinto de Sousa e Valen­tim Loureiro para escolher os árbitros para os jogos do Gondomar. É falso. Nunca almoçá­mos os quatro, nunca! Os quilómetros de fita das minhas chamadas gravadas talvez dêem para ir à Luz — não ao hospital! — e voltar. Mas desafio alguém a encontrar uma palavra mi­nha sobre o Gondomar. Nunca me interessou se o Gondomar subia ou descia, nunca vi um jogo, nunca emprestámos um jogador ao clu­be e eu ia almoçar, tomar o pequeno-almoço ou encontrar-me numa esquina para combi­nar os árbitros do Gondomar?! Ridículo.

Está a ser investigado por fraude fiscal e bran­queamento de capitais decorrentes de trans­ferências de jogadores. Fala-se de mais de 150 operações bancárias sob suspeita...
Tudo isso é baseado apenas no que a Carolina diz...

E várias contas no estrangeiro...
É o que ela diz, mais nada. Ela diz que uma imobiliária da qual sou o accionista maioritá­rio serviu para se fazerem lá transferências de dinheiro de Jorge Mendes e Joaquim Oliveira. A PJ fez uma busca à contabilidade. Por mim, podem levar tudo. Não existe nada que não se­jam movimentos de compra e venda de casas. Mas se ela disser que tenho um poço de petró­leo escondido, talvez venham os procurado­res e a PJ de Lisboa fazer um levantamento...

Processos na Liga. A Comissão Disciplinar pode determinar a perda de pontos do clube e a sua suspensão do cargo por um período de seis me­ses a dois anos. Como encara estas situações?
Com tranquilidade. A Liga baseia os argu­mentos no depoimento da dita senhora, tal como o Ministério Público.

Não aceita perder pontos?
Não. No meu caso irei até às últimas instân­cias internacionais. Se calhar, terei oportuni­dade de revelar muitas coisas.

Se for condenado nos processos judiciais, deixa a presidência da SAD do FC Porto?
Não admito ser condenado.

Reconhece que por vezes baixa o nível para de­fender o FC Porto?
É difícil não baixar o nível com certas pesso­as. Se mantiver o nível, elas não percebem. Não vou citar o José Régio ou o António No­bre com alguém do futebol senão ainda me perguntam se são presidentes da Firestone ou da Goodyear. E eu de pneus não percebo nada (risos).

A «cultura» do FC Porto é elogiada com frequên­cia. Qual é a receita? Criar um inimigo externo?
Não, é tudo uma questão de regras. Uma das minhas vantagens foi chegar ao FC Porto há quase 50 anos. Percorri as secções, dirigi as actividades amadoras. Vivendo por dentro, compreendi o que estava mal. A dada altu­ra, até os directores do ciclismo e do ténis de mesa decidiam se um jogador de futebol ficava ou não no clube! Não podia ser. Hoje, as regras são as mesmas que segui quando tomei conta do futebol: treinador escolhido por mim, jogadores escolhidos por mim e pelo treinador, balneário blindado - só entra o director do futebol e o presidente — treinos a mesma coisa. Como correu bem, a tradição mantém-se.

Como é que cada jogador absorve essa cultura rapidamente?
Quem não respeita as regras e a disciplina, não vem, nem fica. Não interessa ser só bom joga­dor. No passado, os jogadores estavam sem­pre bem porque, se corresse mal, o treinador é que ia embora.

O que acha que acontecerá ao Benfica se conti­nuar a não ganhar títulos nos próximos anos?
Não acontecerá nada. O Fernando Seara con­tinuará a falar na SIC de penaltis com vinte anos e a fazer a defesa do presidente e dos jo­gadores. O senhor António, do Trio daAtaque, vai continuar a dizer que o Benfica é um clube nacional e o maior. E os sócios continuarão sempre à espera do próximo ano, que será melhor.

Mas qual é o problema do Benfica?
Se dissesse, eles ainda o resolviam! Estão bem como estão.

O que lhe aconteceria se estivesse tantos anos sem ganhar títulos e corresse o risco de acabar em terceiro ou quarto lugar?
Já estariam a fazer a missa de aniversário do meu linchamento (risos).

Sporting e Benfica são iguais para si?
Distingo completamente. Com pessoas do Sporting sou capaz de conversar.

Luís Filipe Vieira ainda é sócio do FC Porto?
E, é.

E paga as quotas?
Paga, se não era eliminado. Tem as quotas em dia.

Está interessado em algum jogador do Benfica?
Não. Nem que estivesse livre. Do Sporting, gostava que viesse o João Moutinho. E um jogador «à Porto». Não penso contratá-lo. Sei que para o Sporting é um jogador inegociável.

Quaresma, Lisandro, Lucho, Bosingwa, Bruno Alves. Qual deles vai ser mais di­fícil segurar?
O Quaresma, porque tem cláusula de rescisão. Quando leio que o Real Ma­drid está disposto a dar iz~ milhões pelo Ronaldo, não é exagerado pedir 40 pelo Quaresma.

Vítor Baía será o Rui Costa do FC Por­to?
Baía já é um elemento directivo e pode vir a ser muita coisa no FC Porto. Não digo que não seja o mesmo que Rui Costa no Benfica, mas, no imediato, está a ser inteligente: gere o seu pres­tígio e está na faculdade a tirar um curso de gestão desportiva para aspi­rar a outros lugares.

Vai escrever as suas memórias?
Escreverei algo sobre as minhas recordações, talvez ainda durante o meu mandato: o lado positivo — os títulos, as vitórias — mas também o lado negativo do que me aconteceu. Quan­do esse livro sair, talvez as pessoas percebam que havia razões para me perseguirem.

LIGA
«A Liga preocupa-se com muita coi­sa, com a Taça da Liga, a Carlsberg e os pa­trocínios. Mas a Liga não serve para fazer contratos com as cervejeiras. Sou solidário com o Boavista e clubes com dificuldades, mas é inadmissível que a Liga permita situ­ações destas. É concorrência desleal. Se eu puder contratar jogadores para não pagar, vou já buscar o Cristiano Ronaldo. E quem vier atrás que feche a porta.»

SELECÇÃO
«Preferia um treinador por­tuguês. Não é uma questão de reconhecer ou não competência a Scolari, porque isso analisa-se através de resultados.
Portugal já ganhou não sei quantos jogos, mas também perdeu uma oportunidade única de ser campeão da Europa perdendo uma final em casa com a Grécia. Se um treinador do FC Porto perdesse uma final da Liga dos Campeões, no Dragão, com o campeão grego, já cá não estava de certeza absoluta».

LISBOA
«Gosto da zona das «partidas» no aeroporto (risos)...Lisboa tem coisas bonitas e sinto-me bem na cidade, onde tive e tenho muitos e grandes amigos. Um deles era o actor Artur Semedo, fanático benfiquista. Era visita de nossa casa.»

5 comentários:

dragao vila pouca disse...

É uma grande entrevista para ler e guardar.
Já comprei a Visão e é isso que vou fazer.
Um abraço

O Situacionista disse...

Comprei logo pela manhã e mesmo assim tive de correr mais do que uma papaleria.

E ainda só consegui ler as gordas.

Mas pelo que vi, é uma entrevista ... à Pinto da Costa !

Ou se quiserem, à ... N(OSSO) G(RANDE) P(RESIDENTE) !

Vímara Peres disse...

Como sempre, excelente o NGP!

É bom de ver que o NGP cada vez goza maisde fininho o Orelhas. Há uns tempos não fazia isso, estava muito calado. Esta mudança deve querer dizer que está mais à vontade com o apito dourado, que o seu fim não há de trazer problemas e que poderá chegar a altura de contra atacar.

dragao vila pouca disse...

Vão ler o artigo do Prof.Hélder Pacheco que vale a pena.
Está no "Renovar o Porto" ou então no "Mundo azul e branco".
Um abraço

O Soldado Azul disse...

Dá para perceber para quem tinha dúvidas (se é que é possivel...) a autêntica "cabala" montada...
Eis o NGP com mais uma entrevista a demonstrar toda a sua paixão e dedicação pelo nosso clube! Que continue por muitos e bons anos sem que (como dá a entender nas entrelinhas) não deixe de ir preparando devidamente a sua sucessão...
Saudações