quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Conforme prometido !


25 de Abril sempre !
Sinto que anda no ar uma atmosfera do antigamente, um projecto subliminar de subversão das regras democráticas do jogo, para regressar aos pacíficos tempos em que o mais forte mandava e os outros obedeciam.

1 - Anteontem, tal como milhões de outros portugueses, fui votar nas eleições presidenciais. Nos últimos 31 anos, desde que vivemos em democracia, nunca deixei de votar. Muitas vezes votei em branco (o mais político e significativo dos votos) mas nunca deixei que os outros decidissem por mim, sem que eu próprio fosse consultado. Esse é o meu direito e simultaneamente o meu dever. Na minha maneira de ver as coisas, quem foge aos impostos e abstém-se nas eleições não tem o direito de se queixar do que quer que seja. A cidadania democrática exige que se cumpram primeiro os deveres e só depois se reclamem os direitos.

Além do mais, gosto dos dias de eleições. Gosto da alegria tranquila dos portugueses nas ruas, daquela sensação de que é um dia especial — o nosso dia, o dia em que somos ouvidos e tudo se decide às claras, em que a opinião de cada um conta exactamente o mesmo que a opinião dos outros. Gosto dessa festa da democracia que se sente no ar, das famílias caminhando para as assembleias de voto, dos fatos domingueiros, dos vizinhos que se encontram para votar e falam-se, como às vezes não se falam durante um ano inteiro. Vivi toda a minha infância e juventude à espera disto e nunca ninguém mais me tirará isto. O meu 25 de Abril.

Meio a sério, meio a brincar, costumo dizer que o 25 de Abril só se cumpriu verdadeiramente quando a democracia chegou também ao futebol. Quando, em1978, o FCPorto pôde, enfim, ser campeão e pôr fim ao oligopólio lisboeta do Benfica- Sporting, instalado nos hábitos e cultura do Estado Novo e do País. Nesse dia o país futebolístico democratizou- se também, abriu-se a uma nova fronteira—o Porto e o Norte—a que, mais tarde, se juntou também o Boavista. Não aceitarei em silêncio que ninguém mais me volte a tirar isto. E se hoje o escrevo, tendo como ponto de partida de reflexão as eleições de domingo passado, é porque sinto que anda no ar uma atmosfera do antigamente, um projecto subliminar de subversão das regras democráticas do jogo, para regressar aos pacíficos tempos em que o mais forte mandava e os outros obedeciam. Há um nevoeiro de arrogância reencontrada e subserviência correspondente, um todo-poderoso que atropela as regras, reclama privilégios de autoridade e exige dos outros silêncio, medo e obediência. Sabem a que me refiro: os sinais estão todos aí.
(....)

Extracto do artigo de ontem do MTS

Sem comentários: