Os mal-amados
O Futebol Clube do Porto é campeão! Foi uma época de equívocos e contrastes: em que o treinador adoptou um sistema que parecia e prometia ser ofensivo mas que, nos momentos cruciais, foi mais eficiente na defesa; em que as claques entraram em choque com ele e com os dirigentes; em que muitos adeptos verberaram a táctica e as escolhas de jogadores; em que Jorge Costa saiu despeitado, em que Diego não vingou, em que Mc Carthy se apagou; em que a carreira europeia foi desastrada; em que o grande rival nos derrotou por duas vezes.
De bestas a bestiais, é essa a sina de treinadores e dos artistas do futebol. De Adrianse, certamente, mas também de Pepe e Jorginho que ficam para a história como dois dos principais protagonistas do título, numa equipa que desmentiu que o excesso de brasileiros nos planteis faz mossa, porque, para além da magia de Quaresma, da arte de Lucho, da matreirice de Pedro Emanuel, das explosões de Meireles, a mais importante peça do xadrez holandês chama-se, afinal, Paulo Assunção. Uma equipa que não tem um grande capitão indiscutível, mas tem a sua alma e garra no gigante Baía, ora entre os postes ora apoiando o grande Helton e incitando a equipa do banco. Um clube que continua a ter em Pinto da Costa o seu maior activo. São estes os condimentos azuis e brancos que valeram um campeonato merecido, entusiasmante e, por isso, duplamente saboroso. É esta, a equipa campeã mais contestada da história do clube, que ameaça agora conseguir a rara dobradinha.
Rui Moreira
Jornal 24 horas, 23 de Abril de 2006
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