sexta-feira, 3 de março de 2006

Como defender as cores

Esta questão da defesa das nossas cores no que se refere às posições públicas que se vão tomando tem que se lhe diga e merece reflexão. O Futebol Clube do Porto não é a União Nacional. Nesses tempos idos, de que alguns já se esqueceram ou não se lembram por questões de idade, entendia-se que quem dissesse mal do governo estava a dizer mal da Pátria. Ou seja, era-se castigado por ser anti-patriota, quando em muitos casos o que se estava a defender era uma melhor solução para o país e por isso estava-se exactamente a ser verdadeiramente patriota.
Cada qual tem o seu estilo, e como sou muito amigo do Pôncio Monteiro, a última coisa que poderia fazer seria criticá-lo. Tenho saudades dos seus programas. O seu estilo de intervenção era adaptado aos seus colegas de programa: se eles negavam a evidência por conveniência, respondia-lhes com a mesma moeda. O Trio d'ataque é, convirão, um programa diferente. Mas, para voltarmos ao Pôncio, se olharmos à sua excelente entrevista no JOGO que é pública, repararão que ele considera que não fora o Baía ter falhado, não teríamos perdido. Ora, não me parece que se possa tirar essa ilação. A verdade é que mesmo antes do golo do SLB se percebia que a nossa táctica estava desajustada. Cada vez que os 'encarnados' se apanhavam com a bola tinham muito espaço, até o Paulo Assunção se colocar como falso central. E também é verdade que os avançados que falham vários golos evidentes têm pelo menos tantas culpas como os guarda-redes que falham uma só vez. Mas, a questão é que se interpretarmos à letra os comentários mais inflamados, então Pôncio deveria ser criticado por censurar o Baía... como eu já fui criticado por ter dado uma opinião sincera sobre alguns dos nossos jogadores. Ora, é perfeitamente razoável que todos os adeptos, sejam eles comentadores ou não tenham opiniões sobre a equipa, os jogadores, os dirigentes. Quando criticamos o treinador pelos insucessos, só o fazemos porque queremos que o nosso clube ganhe. Se criticamos uma má contratação, fazemo-lo porque queremos o melhor para o nosso clube.
Na minha óptica, e porque não sou comentador oficial senão da RTP-N, compete-me avaliar o que vejo. Tentar afinal explicar os sucessos e os insucessos de forma isenta, ou melhor, como expliquei ao APV uma vez em directo, devemos ter uma isenção com óculos coloridos: no meu caso com lentes azuis. Falar do jogo, mais que dos casos que tantas vezes são exageradamente empolados: é isso que o público que assiste ao nosso programa quer ouvir, por aquilo que avalio das centenas de emails que recebemos, e que como sabe leio com muita atenção. As pessoas estão fartas das novelas tantas vezes fabricadas por dirigentes que só querem aparecer nos jornais ou desculpabilizar-se perante os seus adeptos pelos maus resultados. Estão cansadas de ver as vitórias dos seus clubes desprezadas pelos adeptos de outras equipas que encontram conspirações para as desvalorizarem. Lembrem-se que durante anos andaram a queixar-se que as nossas vitórias só eram possíveis devido ao sistema... lembrem-se que agora que ele já não é nosso, acham o Mourinho o melhor do mundo e arredores...
Pela minha parte, e fiz desporto de alta competição, sempre evitei minorar a vitória do meu adversário. Por razões de ética, mas também por uma questão de lógica que às vezes nos escapa. Então ele era assim tão mau e nem assim lhe ganhamos? Também pela razão inversa, porque quando ganhamos a esse adversário, é bom que ele tenha sido um adversário forte, que deu tudo para tentar impedir-nos de atingirmos o nosso supremo objectivo. Por isso é que para mim a final de Sevilha foi muito melhor que a de Gelsenkirchen...
Ao fim e ao cabo, tenhamos a modéstia de compreender que não somos nós (comentadores de TV, de rádio, de blogues, de jornais) ou os nossos comentários que trazem títulos, apenas podemos ter alguma modesta influência na opinião publica. Essa influência deve ter uma raiz pedagógica, um tronco futebolístico e uma ramagem clubística.Duvido que tenhamos alguma influência real nos treinadores, dirigentes ou jogadores, ou seja no desempenho da nossa equipa.
No caso do FCP, esperemos que a equipa ganhe ao Nacional da Madeira. Temos 10 finais difíceis.
A todos um abraço do Rui Moreira do Trio d'Ataque

2 comentários:

Anónimo disse...

Antes de mais gostaria de lhe dar os parabéns pois ao estar presente no programa como representante das nossas cores aceitou um desafio difícil e ingrato pois é muito polémico. Claro que entre os milhares de adeptos do FCP que estão em casa a ver o programa haverá sempre uns que concordam e outros que discordam totalmente da sua opinião. Por isso eu no seu lugar teria 2 preocupações fundamentais a primeira era sentir que defendia com toda a energia o FCP (e colocar o nosso emblema no fundo não o defende) e a segunda era ser coerente ao longo dos vários programas. Sinceramente e no global penso que as tem cumprido, o lapso do último programa é perfeitamente desculpável. Percebo a explicação que dá em relação a querer por em causa a orientação seguida pela gestão do FCP e nunca a instituição. Mas penso que num próxima oportunidade deverá procurar deixar isso mais claro no próprio programa. Também sou da opinião que não vale a pena dizer mal de um dos nossos, pois isso já há muita gente a fazê-lo. Mas sou capaz de perdoar quando as vezes o copo enche e lá sai uma crítica em jeito de desabafo (e com tantas “desgraças” que aconteceram este ano, é fácil o copo ter enchido). Em relação à sua coerência não tenho nenhum reparo a fazer.

Para concluir diria apenas que continue a representar-nos, bem como tem feito, e que volta e meia pode vir a este blog buscar alguma inspiração. Não só entre os bloguistas administradores, mas também dos outros que por cá vão passando regularmente e deixando a sua opinião.

Nota final: Acho que a atitude de se dar ao trabalho de responder a alguns reparos que neste blog lhe foram feitos só lhe fica bem. Ao fazê-lo tenho a certeza que consegue clarificar algumas ideias que possam não ter sido bem transmitidas no programa, mas consegue também respeito e admiração de muitos outros Portistas.

Anónimo disse...

Sr Dr Rui Moreira:

A liberdade de opiniões e a divergência de entendimento sobre os rumos estratégicos do clube ou de uma qualquer organização não se põe em causa.

Imagine o Sr Dr que nas suas empresas ou nas associações que dirige um membro dos órgão sociais, mesmo não sendo executivo, se põe a questionar publicamente e de forma bastante agressiva as opções políticas e de gestão que o Sr Dr toma? Fica contente, acha que faz bem para o desiderato colectivo?

Aquilo que defendo é que se o Sr Dr quer estar à vontade para ter um discurso de ataque à gestão da actual direcção do FCP tem que se demarcar dela, não fazendo qualquer sentido que pertença aos corpos sociais dessa mesma gestão. Ou estarei errado?? A não ser que não seja o mesmo Rui Moreira que aparece no site do FCP como fazendo parte do Conselho Consultivo do clube. Se não for a mesma pessoa, desde já o meu pedido de desculpas, independentemente de manter que o seu negativismo e pessimismo expresso no último programa excedeu em tudo qualquer equivalente relativamente aos outros dois elementos do Painel, e vou abster-me de citar as suas frases mais contundentes e comprovativas daquilo que estou a dizer.

Termino com uma pergunta:

Victor Fernandez que ganhou quase todos os jogos "decisivos" e "importantes"( Sporting, Benfica, Chelsea, CSKA Moscovo) afinal de contas porque é que saiu e foi objecto de tantas críticas suas??? Tal questão impediu que os adeptos mostrassem a sua ira depois do jogo frente ao Braga que motivou o seu despedimento?? Não será essa uma falsa questão?? Ganhar em Guimarães, onde o SLB perdeu, não é importante? Ganhar ao Boavista e duas vezes ao Nacional não é importante? Ir á frente a 9 jornadas do fim não é importante??? Porquê incidir sempre a questão nos jogos grandes quando por exemplo na liga dos campeões o que nos faltou foi ganhar em casa ao Artmedia e ao Rangers, jogos ditos menos importantes??? Falsa questão caro Dr Moreira, tivessemos nós num grupo onde existissem mais equipas que não pusessem o autocarro à frente da baliza e tinhamos ido em frente.