quarta-feira, 3 de maio de 2006

RUI MOREIRA E O IRAQUE


Vejam e leiam estas verdadeiras pièces de resistance.

Estamos cada vez mais fortes.

O artigo do Dr Rui Moreira:

tanto no futebol como na política, há dúvidas que jamais são esclarecidas e denúncias que jamais serão investigadas


Azias

1.O Futebol Clube do Porto já é campeão nacional de futebol. Esta época não houve vitórias internacionais, mas se vencer no plano interno é sempre um feito difícil, no caso do FCP tem sempre o condão de acender polémicas e de causar azia. É um fenómeno que transparece na valorização desproporcionada de “faits divers” assessórios por parte de certa imprensa desportiva. Ainda assim, as suas vitórias são, nos dias de hoje, tão previsíveis como dantes, no tempo da velha senhora, eram vistas como excepcionais. É por isso que quando falha a meta, se diz que o FCP perdeu o campeonato, ao passo que nos anos em que a atinge se diz que os seus adversários ficaram em 2º ou 3º lugar. O grande mérito desta mudança é de Pinto da Costa, há 24 anos à frente dos destinos do clube. A ele se deve esta alteração das expectativas dos cada vez mais exigentes adeptos portistas, que é também comungada pelos seus adversários e pelos observadores do espectáculo desportivo. Não admira pois que o presidente do FCP seja o alvo preferencial de ódios e de invejas.

2.Com o caso “Apito Dourado”, houve quem acreditasse que o seu reinado chegaria ao fim. Afinal, o Ministério Público acaba de arquivar o principal processo no qual Pinto da Costa era arguido. Os atiradores de serviço que visam sempre a “futebolândia” e os adversários que confessada ou secretamente esperavam por uma condenação, perderam um argumento de peso. É certo que o desporto-rei não é exemplar, e o estilo dos seus dirigentes deixa muito a desejar. Apesar das Sociedades Anónimas Desportivas, que vieram dar uma maior transparência nas contas dos clubes, continua a haver uma área nebulosa nos negócios que envolvem o futebol. Há também um clima de suspeição e indícios de arranjos e cabalas que perturbam a verdade desportiva desde o nível distrital até às altas esferas do futebol mundial. É igualmente verdade que tem havido uma maléfica promiscuidade entre o futebol e a política, mas ela resulta não só dos oportunismos dos seus actores como também das evidentes parecenças entre os dois mundos. Afinal, tanto no futebol como na política, há dúvidas que jamais são esclarecidas e denúncias que jamais serão investigadas.

3.Com a vitória em Penafiel que garantiu a recuperação do título, a cidade explodiu de júbilo. Começaram-se a ouvir as buzinas num toque a reunir que arrancou todos os adeptos de casa e como a noite estava convidativa e a hora não era adiantada, também as crianças participaram nas comemorações. Rumei ao Estádio do Dragão, onde milhares de pessoas aguardavam a chegada dos seus ídolos. Depois, fui até à Praça onde, junto à estátua equestre de D. Pedro IV, se cumpria a velha tradição. Vi muitos portistas entusiasmados, outros portuenses solidários e alguns turistas curiosos pela inesperada festa. Encontrei muita gente feliz, vi e troquei abraços efusivos, ouvi cânticos inflamados (alguns de gosto duvidoso porque ainda há quem prefira ofender o adversário a glorificar os seus heróis) e assisti a um bom negócio (mais ou menos legítimo) de comes, bebes e cachecóis. Avizinham-se outras noites assim, no dia em que o FCP terminar o campeonato jogando no Bessa e de novo se ganhar a Taça de Portugal. Daqui até ao São João não faltarão pois as romarias. Para o município, que se esforça por devolver a animação ao centro da cidade, é um bónus e uma borla que não deve ser desprezada.

4. A importância das vitórias do FCP transcende os festejos e o sentimento de orgulho dos azuis e brancos. Claro que a cidade do Porto não se confunde com o FCP. Há muitos portuenses que não são portistas e cada vez mais portistas que não são portuenses. É por isso que o clube os seus dirigentes devem recusar os discursos bairristas e incendiários, porque estes são redutores e desadequados à dispersão geográfica dos seus novos adeptos. No entanto, o clube promove a cidade enquanto marca de excelência num mega-negócio à escala global, tendo adquirido uma notoriedade invulgar. Numa Europa em que as antigas fronteiras se esbateram, em que se acentua a concorrência entre cidades, o FCP é muito mais do que um símbolo, é um activo competitivo e estratégico que devemos acarinhar.

1 comentário:

Eterno Dragao disse...

Não tinha lido o artigo. Obrigado pelo envio. Está excelente.